descrição

"Um filo-café é um triciclo. Movimenta-se pelos próprios. Não tem petróleo. A sua combustão é activada pelo desejo. Não se paga, não se paga. Apaga-se. E vem outro. Cabeças sem trono. Um filo-café lembra-se. Desaparece sem dor."

2.10.12

filo-café internidade: (contributos 4)



 a internidade equinocial

o areal distendia-se no reflexo dos pés
deixava marcas trilhadas de esquecimento
enquanto reflectia a noite no estômago do mar
por perto as estrelas pendiam a espuma

os ventos sulares eriçavam a epifania da água
quentes jorravam no estalo da equidistância
pela humidade abrasiva que transbordava para dentro
desenhando o limite das algas nas pontas dos pés

o rugido era vagaroso como a vaga que ronrona
estendia-se perante a pulverização da roupa
a nudez era muda tocada pelo aguaceiro da chama
constante como tudo o resto que o não era

o corpo ígneo correu para o líquido amniótico
encontrou a fetalidade da memória que não tinha
lembrou-se do que nunca percebera
porque nascia em dança salgada erotizada de lua

existiam gritos que não se ouviam no choque das ondas
e maternidades que não se dão quando a onda se entrega
liquefacções dos átomos que ainda não se repulsaram
estão na centelha da eternidade eternamente perdida

a noite afaga o corpo húmido na internidade de um cosmos vazo
o caos sereno faz detonar gestos arrebatados
vibram pela epiderme fecunda de quem não existe
o prazer culmina no esperma misturado de espuma salina

o rumo inverso demonstra que o trilho não existe
que a erosão revolve pegadas para o caos
liso como o veludo celeste pintalgado de verdes que cintilam
o obscuro é alquimia da noite em dia de doses iguais

o corpo revolve para a memória e descobre que não existe
tudo o que estava permanece na mutação
mas o corpo soube que quando esteve foi deus
até que a areia lhe saísse dos pés para o esquecer

sentiste o corpo regressar ao útero mãe?

bruno miguel resende

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