descrição

"Um filo-café é um triciclo. Movimenta-se pelos próprios. Não tem petróleo. A sua combustão é activada pelo desejo. Não se paga, não se paga. Apaga-se. E vem outro. Cabeças sem trono. Um filo-café lembra-se. Desaparece sem dor."

12.5.12

filo-café: milagres (contributos)

carlos silva

zé eduardo fraga


alexandre o'neil


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O passeio inexistente final
    


texto e voz: carlos vinagre
fotografia e conce(p)ção: ricardo andrade:
tratamento áudio: joão losa


***


do silêncio das flâmulas



abro os braços para as cinzentas alamedas do cárcere
e como  escrava vou medindo o vacilante silêncio das flâmulas

dentro do ventre da voz contida sento-me  enquanto descanso
com o mono mais barato da família sagrada entre os pés

à passagem da lâmina pela superfície do abandono
escorrem fios do meu  sangue sobre as costas do dogma

eis a maravilha reposta ao volante dos lábios
circulam-me pelas artérias todos os milagres do universo

fátima vale


***

ÍNDICE ECMENÉSIO

Antes de me afastar demasiado de mim
Apurei-nos, em toda a geistória, este momento
: as pétalas sacrificiais de Santa Teresinha, a água com sal para os pés.
Incensários volatilizam o verso sesquipedal
Em heréticas viagens iconoclastas e cristalinos vómitos de alma&lama.
As fontes? A autobiografia de setenta e dois anjos, nove livros perdidos da Lemuria e da
Atlântida, cem queimados da Alexandria e da Inquisição,
Dez que ainda não se escreveram, doze que jamais saberei.
Heterodoxas paráfrases de amor e medo, parábases hardcorïf
Amalgamadas locuções desensarilhantes, metáforas metabolizantes
Atónitas tautologias ab aeternum, catóptricas sub-atómicas fórmulas de porvir
(de quem vive no meio sem estar em pré-determinada direcção)
Fátima desvendada intra-molecularmente e o diabo uma fada inter-galáctica
Premissas pseudo-parabolóides, diasporizantes, emigrantes de mim
Metamorfoses sonambúlicas, teorias do caos e súbitas cosmogonias
Subtis pitadas da minha própria cinza
- da mão, do abraço, do UM BIG O
; porque já soube a minha idade; porque sinto a dor, mas não a sou
;porque estou e não estou
Serôdias análises combinatórias: AAM MAA AMA MMA…
Uploads via oral, turbinas de deslembranças, ternas voragens.

E a haver culpa deste apetite, é da policromia dos meus irmãos de [ser]
Das tascas e dos restaurantes fusion gourmet onde me levam
- juntos somos “a escada em espiral que se afunda e se eleva”
A confluência de [três rios], incertos mundos paralelos
A faculdade de descrever o oximoro, todas as Faculdades
Nascentes de promessas que curam e que matam.
Nós e o Silêncio
Inervados no circuito micromacrocósmico, incubadoras de nada e tudo
Transportamos a babel heptagonal na metodologia do Infinito.
Os pés que continuem imersos. Talvez estejamos na iminência de algo:

Suzana Guimaraens

*** 

a doença

o meu corpo parece um cão deitado.
às vezes penso que outro cão se aproxima de mim,
para me cheirar ou lamber,
mas nunca acontece.
às vezes são os homens que se aproximam.
são cinco e estão nus,
mas mal sentem o cheiro viram costas,
na pele, como se gravado a ferro em brasas,
um tem escrito o,
outro tem escrito meu,
outro tem escrito corpo,
outro tem escrito no,
outro tem escrito teu.
os cinco homens juntos formam
o meu corpo no teu.
mas de costas são apenas homens
sem qualquer serventia.
nem sequer me lambem como um cão vadio.
às vezes penso nas mulheres destes homens:
estão em casa, muito gordas, de avental,
com o jantar à espera.
penso no corpo delas, deformado,
a barriga acumulando-se sobre as coxas,
cheia de mamas.
os homens chegam a casa, sentam-se a comer,
passam da mesa para o corpo,
sentam-se a comer.
imagino o que as mulheres lhe dizem:
aqui tens o teu jantar,
ao mesmo tempo que colocam
o prato
e o corpo
sobre a mesa

alice macedo campos

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rui maia