descrição
"Um filo-café é um triciclo. Movimenta-se pelos próprios. Não tem petróleo. A sua combustão é activada pelo desejo. Não se paga, não se paga. Apaga-se. E vem outro. Cabeças sem trono. Um filo-café lembra-se. Desaparece sem dor."
10.12.12
28.10.12
filo-café astronomia: contributos
até que o sol se feche em mim
no que me esconde o sulfato
antecipo o silêncio numa remissão inquieta e opaca
o telhado do sol
hei-de acreditar na redenção
na cascata que se dilata em voz ao indefinido
a morte do crepúsculo
que tristeza é esta que me repete?
a terra imberbe do céu, onde está?
guardo-me no que goteja na praia
na borboleta dos sonhos
até que a morte me embacie no segredo do mundo
o porto da minha mãe
a nebulosa de rosas que cresce no campo sepultado
pela linha da extinção.
a ebulição do meu sangue
o poço das minhas folhas
amá-las-ei até que o sol se feche em mim.
Carlos Vinagre
**************
À Cláudia
Não te conheço Cláudia!
Não sei se falas de Estrelas,
De buracos ou carneiros
Comedores de couves
Nos confins da miséria,
Rodeada de rios e mares
Gelados pelo desaquecimento
Solar!
Não sei se estás presa à mãe Terra,
Ou divagas pelo sistema extra-solar
Ricocheteando nos cinturões de asteróides
Internos e externos
Numa tentativa sempre renovada
De mergulhar na sopa magnética
Do Limite do Sistema
Para chegar às Estrelas...
Não te conheço Cláudia!
Mas sei que a tua procura
E libertação está
No encontro solene
Do horizonte de eventos,
Que te levará para lá de ti mesma
No reencontro do infinitesimal...
Agostinho Magalhães
***Rodeada de rios e mares
Gelados pelo desaquecimento
Solar!
Não sei se estás presa à mãe Terra,
Ou divagas pelo sistema extra-solar
Ricocheteando nos cinturões de asteróides
Internos e externos
Numa tentativa sempre renovada
De mergulhar na sopa magnética
Do Limite do Sistema
Para chegar às Estrelas...
Não te conheço Cláudia!
Mas sei que a tua procura
E libertação está
No encontro solene
Do horizonte de eventos,
Que te levará para lá de ti mesma
No reencontro do infinitesimal...
Agostinho Magalhães
Saímos das negras profundezas telúricas, há muitos milhões de anos, em direcção à Luz pintalgada num céu negro e num Sol brilhante e magnífico! Na nossa infinita pequenez, quisemos, no alvorecer da Humanidade, tocar o céu e, para ele, inventar significados com ou sem deuses, mas sobretudo com projecções das fantásticas dúvidas que o olhar maravilhado nos suscitava e, assim, nos tornámos Astrónomos! E o Céu continuav
a
inalcansável! De repente! Com a “invenção” da Filosofia, da Matemática,
da Física, com Galileu, Hublle, e muitos outros gigantes, desde a
antiguidade, quisemos, com a invenção do telescópio “tocar” os astros e,
daí, às viagens fantásticas e à descoberta do infinito, foi "Um pequeno
passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade"! A
Astronomia conta-nos histórias verídicas tão extraordinárias que
continuamos, incrédulos, a tomá-las por ficção e assim será, até
conseguir-mos ultrapassar o fantástico sonho e nos tornar-mos Cidadãos
do Universo...
Agostinho Magalhães
20.10.12
filo-café: astronomia
Distribuidor de Palavra Pública:
Carlos Vinagre
Astrónomos Convidados:
Pedro Almeida, Giancarlo Pace
Inscrições (abertas e gratuitas, e em permanente actualização):
Francisco Duarte (org), Ricardo Lamboldt (org), Carlos Silva (fotografia), José Eduardo Fraga (fotografia), Rui Moura (curta-metragem), Rui Maia (fotografia), Virgílio Liquito (poesia), Maria Carvalho (texto), Gabriela Marques (música), José Luís (música), Daniela Pinheiro (texto), Ricardo Andrade (power-point), Júlia Esmeralda (texto), Agostinho Magalhães (palavra), José Leal Loureiro (neuroastronomia), Bruno Miguel Resende (performance), Alberto Augusto Miranda (texto), Augusto Pinto Oliveira (texto), Abeke Arogo (performance), Maria Carvalho (texto)
Etiquetas:
astronomia
19.10.12
5.10.12
filo-café internidade: (contributos 5)
aequus nox
I
no cativeiro o ouroboro devora-se_________ rejeita a internidade lapidada
do terrortório
em carne viva resiste na ilusão da luz _________ alvo poema do desejo
______ milagre filial do caos
o corpo do ouroboro está cinza do ocaso ________ golpe sangrento de uma
inexistência de calor no cárcere privado _______
cada ave que passa estende-lhe um voo de desespero e saudade________
foder e amar é o nome da galeria onde o leite primordial se derrama para o
abismo da noite _________ equinócio mutilante do supérfluo ________
mâgnanima chuva quente sobre o gelo do desencontro
sofrer ao relento é a libertação do condenado
o ouvido mutila-se e arrasta-se pela lama ______ jazida humanal ________
cosmética dos espectros
dormir é a provisória eternidade ________ a morte visitada
II
escorre dos golpes do meu braço terebentina _______
ninguém a recolhe e o seu cheiro é alheio ao olfacto dos homens _______
por vezes há um animal que de passagem a lambe diluindo o pigmento da sua
língua _______ disso por vezes brota uma ou outra tela conservada na
intemporal existência das coisas _______tatuagens na transcendência
cutânea do vivido
_______ auto fecundação _____ contingência do perecível
quando nos abraçamos é toda a vivência que fica no ovo do ouroboro que
criamos com os braços _______ sucede-lhe ficar esbranquiçado pela
incidência de muitos sóis _______
então a ideia liquidifica-se resinosa dentro do caule da memória _______
e renasce
dos coníferos ramos que as mãos me seguram ______ só o processo
incendiário produz energia
a dança dos mortos mantém a terra batida no meu peito sem que a poeira se
esvazie de mim por lapso da fala ______
o sol que carregas abre e fecha todas as coisas _______
fátima sapetiveoatl vale
I
no cativeiro o ouroboro devora-se_________ rejeita a internidade lapidada
do terrortório
em carne viva resiste na ilusão da luz _________ alvo poema do desejo
______ milagre filial do caos
o corpo do ouroboro está cinza do ocaso ________ golpe sangrento de uma
inexistência de calor no cárcere privado _______
cada ave que passa estende-lhe um voo de desespero e saudade________
foder e amar é o nome da galeria onde o leite primordial se derrama para o
abismo da noite _________ equinócio mutilante do supérfluo ________
mâgnanima chuva quente sobre o gelo do desencontro
sofrer ao relento é a libertação do condenado
o ouvido mutila-se e arrasta-se pela lama ______ jazida humanal ________
cosmética dos espectros
dormir é a provisória eternidade ________ a morte visitada
II
escorre dos golpes do meu braço terebentina _______
ninguém a recolhe e o seu cheiro é alheio ao olfacto dos homens _______
por vezes há um animal que de passagem a lambe diluindo o pigmento da sua
língua _______ disso por vezes brota uma ou outra tela conservada na
intemporal existência das coisas _______tatuagens na transcendência
cutânea do vivido
_______ auto fecundação _____ contingência do perecível
quando nos abraçamos é toda a vivência que fica no ovo do ouroboro que
criamos com os braços _______ sucede-lhe ficar esbranquiçado pela
incidência de muitos sóis _______
então a ideia liquidifica-se resinosa dentro do caule da memória _______
e renasce
dos coníferos ramos que as mãos me seguram ______ só o processo
incendiário produz energia
a dança dos mortos mantém a terra batida no meu peito sem que a poeira se
esvazie de mim por lapso da fala ______
o sol que carregas abre e fecha todas as coisas _______
fátima sapetiveoatl vale
2.10.12
filo-café internidade: (contributos 4)
a internidade equinocial
o areal distendia-se no reflexo dos pés
deixava marcas trilhadas de esquecimento
enquanto reflectia a noite no estômago do mar
por perto as estrelas pendiam a espuma
os ventos sulares eriçavam a epifania da água
quentes jorravam no estalo da equidistância
pela humidade abrasiva que transbordava para dentro
desenhando o limite das algas nas pontas dos pés
o rugido era vagaroso como a vaga que ronrona
estendia-se perante a pulverização da roupa
a nudez era muda tocada pelo aguaceiro da chama
constante como tudo o resto que o não era
o corpo ígneo correu para o líquido amniótico
encontrou a fetalidade da memória que não tinha
lembrou-se do que nunca percebera
porque nascia em dança salgada erotizada de lua
existiam gritos que não se ouviam no choque das ondas
e maternidades que não se dão quando a onda se entrega
liquefacções dos átomos que ainda não se repulsaram
estão na centelha da eternidade eternamente perdida
a noite afaga o corpo húmido na internidade de um cosmos vazo
o caos sereno faz detonar gestos arrebatados
vibram pela epiderme fecunda de quem não existe
o prazer culmina no esperma misturado de espuma salina
o rumo inverso demonstra que o trilho não existe
que a erosão revolve pegadas para o caos
liso como o veludo celeste pintalgado de verdes que cintilam
o obscuro é alquimia da noite em dia de doses iguais
o corpo revolve para a memória e descobre que não existe
tudo o que estava permanece na mutação
mas o corpo soube que quando esteve foi deus
até que a areia lhe saísse dos pés para o esquecer
sentiste o corpo regressar ao útero mãe?
bruno miguel resende
23.9.12
filo-café internidade: contributos (3)
internidade
Que deus encontre a espuma dos seus dias.
Se
a água corre nos olhos e deus suga a alba pela retina, se o corpo se cobre de
lama pela imensidão da espuma, onde nos resta o fogo - o fulgor eterno e divino
do bosque, o indizível sono da nossa palavra? O enunciado amoroso do desespero.
Quem se julga descobrir nos textos que pronuncia - a cavalgada de emoções? Quem
ousa quebrar o rio, a torrente que encarcera os pulsos? Ferve-me este púbis, um
desejo de te foder pela boca e me verter pela língua, ombros da angústia,
enquanto me perco e me vislumbro o oceano extenso do meu sonho. Cerco-me das
árvores do teu sémen, da tua nudez. Quero cegar-me no horror da vida digital
durante as hipotéticas expectativas amorosas - os altericídios anterramados
pelo clarão neurótico. Arde-me as mãos. Quero foder-me. Quero foder-te. Come-me
o cérebro pela cona.
A água que aos olhos sangra é o corpo de deus emerso na alba do rócio da retina.
Carlos Vinagre
22.9.12
filo-café internidade: contributos (2)
Da possibilidade da internidade
As novas palavras estão para a língua
como as mutações genéticas estão para a biologia, fazem parte da permanente
evolução e tanto podem durar milénios como somente o momento da sua criação.
São também um factor da própria evolução. Surgem por mil e uma razões, por
raiva, por gozo e muitas vezes pela necessidade de enunciar uma ideia ou
designar um objecto, quando ainda não existe uma palavra correspondente. É
simples de imaginar que as palavras telefone ou televisão só tenham surgido
depois da criação destes curiosos objectos. É também assim a génese da
linguagem na criança. Esta começa por compreender mais do que consegue
exprimir. Portanto, o conteúdo precede a sua expressão.
E o contrário, será possível?
Será imaginável encontrar-se um sentido para uma palavra que ainda o não tenha?
E internidade será mesmo uma palavra? Parece que não é, pois nada significa.
Então, o quê é? Sons articulados. Porém, internidade ecoa a qualquer coisa,
pede um significado, o qual deverá surgir, a meu ver, não através de um
percurso semântico, dada a inexistência de um conteúdo dizível, mas de
analogias fonéticas.
Se um grupo de InComuns se juntasse numa praça dando
vivas à internidade, quem passasse, para além de se questionar sobre a saúde
mental ou a religiosidade dos manifestantes, ouviria vivas à eternidade. Coisa
com a qual a internidade não pode ter nada a ver. Internidade remete para a
intestinidade, para o seu de cada um.
Não equivale ao eu, não é o self, nem o adjectivo substantivado pela
psicanálise, o inconsciente e também não equivale ao insight.
Proponho que internidade seja o
lado interior de cada um, que cada pessoa em parte desconhece, podendo ser mais
visível aos olhos dos outros e que caracteriza cada ser humano. Dir-se-á, mas
para isso já existe uma palavra, personalidade. Porém, a noção de personalidade
implica a existência de muitos traços comuns a todos os seres humanos, o que é
verdade, e é da multiplicidade de incontáveis combinações e variações que
resulta uma determinada persona. A internidade será um conceito menos extenso e
menos claro. É o que é incomum, recôndito e próprio de cada um. É o que nos
representa por dentro e nos individualiza a todos. É o que faz com que um poema
possa conter coisas desconhecidas para o seu autor. É o que faz com que pessoas
muito parecidas possam não se encaixar e que as mais distintas se possam
conjugar.
José
Leal de Loureiro
21.9.12
filo-café internidade: contributos (1)
Internidade
Já não vais descalço pelas
margens do rio, já não roubas fruta nos quintais, nem jogas à macaca traçada no
chão. Nem sequer na tua memória há alguém interessado em convidar-te para
capturar girinos. Nem um fio de cabelo se mexe. Está tudo quieto e misterioso.
Talvez esperando uma fraqueza para te assaltarem, para serem elas as presentes
e não tu presente nelas. As recordações ficam estátuas e o único movimento que
te ocorre é o de um baloiço que acabou de parar. Às vezes revolves frases
familiares onde te procuras em ti, visto de fora. O tempo individual é uma
internidade relativa, quando te envolve com a emoção que te foi proporcionada
nos espaços.
Na órbita dos pensares um território de ninguém, talvez um limbo ou uma estrada. Quando acontece meditares pensas que é por ela que vais, sem encruzilhadas. Deixas que uma parte do interno solte as algemas com que o corpo o prendeu e, então, deslizas. Agora, o curso do olhar vai também fotografando a espuma, a ausência de margens. Na primeira comunhão sabias voltar-te para o altar e unir as mãos como nas estampas do livrinho branco, com um terço debruçado, olhar para a Virgem e pensar no céu como recompensa e o no inferno como castigo. Hoje e aqui parecem dissipar-se o medo e as ameaças. Já não chega com a mesma violência esse oceano de chamas que aterrorizava as noites pesadas. O inferno tornou-se na obrigação de pertencer a um externo sofrível, o céu na etiqueta da paz e da justiça moribundas. Ficaram na guerra, nos olhares dos ditadores e dos fascistas esses invernos de fora que te queimaram por dentro. Ninguém pode apagar os rasgos que se abriram no interior, as cicatrizes mais profundas. Através da viagem essa internidade come experiências. Se não fora a fé, aguentarias menos. Não pode ser apagado o que te formatou. Continuas a viagem e dizes que não há nada para além do vazio. Vês um enxame de estrelas que te fere os olhos, mas isso é de os fechares com muita força. Ouves a melodia cósmica do silêncio e perguntas por Deus. Ele não responde, mas isso é de teres problemas com a audição. O ruído assusta-te. Por isso afastas-te, cada vez mais. Há um campo aberto onde esperas deitar-te a contemplar as nuvens. Elas, compenetradas a formar uma mensagem para que leias, tornam-se carregadas. Foges da tempestade, mas isso é porque te esqueceste do guarda-chuva ao lado da porta que dava para o Sol. Voltando os olhos para o alto, cegas. Está tudo escuro e, perdido o tempo que acendia velas, soltas uma lágrima. Não sabes se cai de ti ou se é chuva a romper pelos olhos que davam acesso ao infinito. Não há pontes e resolves construir um círculo. Talvez te inscrevas nele ou sejas a própria inscrição do amor. Pensas que o amor não é nenhuma sucessão de Fibonacci e formas um puzzle com os pedaços que de ti se soltam, como lascas, como cascas. Sobre ti muitas camadas, em sobreposição, descamam-se, lentamente. Sentes-te nu e corres, como louco em fuga do manicómio. Depois serenas, mas não porque te injectem calmantes. A química tem um poder que não cabe em ti. Falas contigo, preenches o monólogo com a neve da lâmpada, mas o que acontece é que falas com uma quantidade de gente interna e externa. Perguntas por ti, nessa névoa onde te aglomeraste ao vento, mas ninguém sabe dizer-te. Sentes ser uma possibilidade, uma versão, um traço, um acorde. O resto é um aglomerado de círculos com membranas. A personagem que se matriculou na composição do abismo procedeu à compilação dos quadros da tua existência. Questionou a largura, a profundidade e, sobre o tempo real, a verdade e o artifício. A angústia conduz-te novamente à estrada. A noite finca-se nos passos de dentro. Habitam perguntas, mais do que respostas naquilo que ainda podes, naquilo que ainda dizes. Porém não sabes, nem o satélite no alto. Há demoras e todo um negrume que te engole vivo. Na interrupção do negro, um ou dois segundos de luz. E tão incerta será se não houver quem a sinta, quem a observe. Desprendes-te da estrada, da cidade, do país, do continente, do planeta, da galáxia e continuas preso ao pensamento – esse gracioso décor até pelo próprio desconhecido. Saindo, é sempre em ti que estás. Estando, é sempre com o sair que sonhas.
Marília Miranda Lopes
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