carlos silva
zé eduardo fraga
alexandre o'neil
***
O passeio inexistente final
texto e voz: carlos vinagre
fotografia e conce(p)ção: ricardo andrade:
tratamento áudio: joão losa
***
do silêncio das flâmulas
abro os braços para as cinzentas alamedas do cárcere
e como escrava vou medindo o vacilante silêncio das flâmulas
dentro do ventre da voz contida sento-me enquanto descanso
com o mono mais barato da família sagrada entre os pés
à passagem da lâmina pela superfície do abandono
escorrem fios do meu sangue sobre as costas do dogma
eis a maravilha reposta ao volante dos lábios
circulam-me pelas artérias todos os milagres do universo
e como escrava vou medindo o vacilante silêncio das flâmulas
dentro do ventre da voz contida sento-me enquanto descanso
com o mono mais barato da família sagrada entre os pés
à passagem da lâmina pela superfície do abandono
escorrem fios do meu sangue sobre as costas do dogma
eis a maravilha reposta ao volante dos lábios
circulam-me pelas artérias todos os milagres do universo
fátima
vale
***
ÍNDICE
ECMENÉSIO
Antes
de me afastar demasiado de mim
Apurei-nos,
em toda a geistória, este momento
:
as pétalas sacrificiais de Santa Teresinha, a água com sal para os pés.
Incensários
volatilizam o verso sesquipedal
Em
heréticas viagens iconoclastas e cristalinos vómitos de alma&lama.
As
fontes? A autobiografia de setenta e dois anjos, nove livros perdidos da
Lemuria e da
Atlântida,
cem queimados da Alexandria e da Inquisição,
Dez
que ainda não se escreveram, doze que jamais saberei.
Heterodoxas
paráfrases de amor e medo, parábases hardcorïf
Amalgamadas
locuções desensarilhantes, metáforas metabolizantes
Atónitas
tautologias ab aeternum, catóptricas sub-atómicas
fórmulas de porvir
(de
quem vive no meio sem estar em pré-determinada direcção)
Fátima
desvendada intra-molecularmente e o diabo uma fada inter-galáctica
Premissas
pseudo-parabolóides, diasporizantes, emigrantes de mim
Metamorfoses
sonambúlicas, teorias do caos e súbitas cosmogonias
Subtis
pitadas da minha própria cinza
-
da mão, do abraço, do UM BIG O
;
porque já soube a minha idade; porque sinto a dor, mas não a sou
;porque
estou e não estou
Serôdias
análises combinatórias: AAM MAA AMA MMA…
Uploads
via oral, turbinas de deslembranças, ternas voragens.
E
a haver culpa deste apetite, é da policromia dos meus irmãos de [ser]
Das
tascas e dos restaurantes fusion gourmet
onde me levam
-
juntos somos “a escada em espiral que se afunda e se eleva”
A
confluência de [três rios], incertos mundos paralelos
A
faculdade de descrever o oximoro, todas as Faculdades
Nascentes
de promessas que curam e que matam.
Nós
e o Silêncio
Inervados
no circuito micromacrocósmico, incubadoras de nada e tudo
Transportamos
a babel heptagonal na metodologia do Infinito.
Os
pés que continuem imersos. Talvez estejamos na iminência de algo:
Suzana Guimaraens
***
a doença
o
meu corpo parece um cão deitado.
às
vezes penso que outro cão se aproxima de mim,
para
me cheirar ou lamber,
mas
nunca acontece.
às
vezes são os homens que se aproximam.
são
cinco e estão nus,
mas
mal sentem o cheiro viram costas,
na
pele, como se gravado a ferro em brasas,
um
tem escrito o,
outro
tem escrito meu,
outro
tem escrito corpo,
outro
tem escrito no,
outro
tem escrito teu.
os
cinco homens juntos formam
o meu corpo no teu.
mas
de costas são apenas homens
sem
qualquer serventia.
nem
sequer me lambem como um cão vadio.
às
vezes penso nas mulheres destes homens:
estão
em casa, muito gordas, de avental,
com
o jantar à espera.
penso
no corpo delas, deformado,
a
barriga acumulando-se sobre as coxas,
cheia
de mamas.
os
homens chegam a casa, sentam-se a comer,
passam
da mesa para o corpo,
sentam-se
a comer.
imagino
o que as mulheres lhe dizem:
aqui tens o teu jantar,
ao
mesmo tempo que colocam
o
prato
e
o corpo
sobre
a mesa
texto e voz: carlos vinagre
ResponderEliminarfotografia e conce(p)ção: ricardo andrade
tratamento áudio: joão losa